Deficientes visuais têm dia para superar limites com esportes radicais

Deficientes visuais têm dia para superar limites com esportes radicais

Arvorismo em Florianopolis para Deficientes Visuais

Grupo praticou tirolesa, arvorismo e paredão de escalada, em Santo Amaro da Imperatriz – Grande Florianópolis

Com o olfato e a audição mais aguçados foi possível descrever mentalmente o local rodeado de mata nativa. Em meio ao barulho das folhas das árvores, um grupo de 17 deficientes visuais superou todos os seus limites participando de esportes radicais. O medo do desconhecido foi deixado para trás para abraçar a confiança própria e a vontade de ter uma nova sensação entre a área verde do Hotel Caldas da Imperatriz, em Santo Amaro da Imperatriz, nesta sexta-feira (19).

Através de uma parceria com a empresa Tartarugas, a ACIC (Associação Catarinense para Integração do Cego), providenciou saídas de tirolesa, arvorismo e paredão de escalada àqueles que nunca pensaram em passar por uma sensação de liberdade como esta. Conforme Alvaro Zermiani, diretor de Cultura, Esporte e Lazer, a atividade faz parte do calendário organizado até o fim do ano que conta ainda com rafting e acampamento.

Conforme o diretor, as parcerias são necessárias para que o cego possa realizar atividades que, talvez, sozinho não conseguiria. “Temos somente o limite visual”, afirma Zermiani. Do grupo, mais da metade dos integrantes são totalmente cegos e poucos têm baixa visão. É o caso do diretor da ACIC, Jairo Silva, que tem apenas 2% da visão.

“Não há barreiras para nós, nem esportes que não podemos desenvolver”, afirma Silva. Ele destaca que uma das dificuldades é encontrar locais acessíveis. O presidente ressalta ainda que muitos cegos têm sua rotina, trabalham e estudam, e acabam esquecendo de se divertir ou praticar esportes. A ACIC possui algumas atividades para integrar os cegos, como dominó, futebol, natação e atletismo.

Adrenalina nas alturas

Jivago Bottenberg, 23, está acostumado com parques de diversões, mas foi a primeira vez que praticou esportes radicais. “Gostei de tudo e faria novamente”, conta o rapaz que nasceu cego, aos cinco meses de gestação.

A colega Débora Marques Gomes, 29, já está mais habituada com este tipo de atividade. “Fiz rafting há algum tempo. Foi muito gostoso. Aliás, adorei tudo, principalmente a tirolesa. É preciso coragem e tomar a iniciativa para se jogar”, lembra.

Com a vontade de repetir todas as modalidades, Débora, que é cega devido a um glaucoma, observa que para a prática das atividades é muito mais necessária a acessibilidade do outro do que do próprio cego. “É preciso paciência e explicações de como deve ser feito e o que será realizado. A doação é mais do outro que do deficiente visual”, acrescenta.

O diretor da ACIC, Jairo Silva, recomenda a atividade e reforça que a tranquilidade é percebida por aqueles que a desenvolvem. “Em algumas coisas, temos uma noção básica. Mas na tirolesa, por exemplo, tinha a noção da saída, mas não sabia como iria ser a chegada”, recorda.

Empresa especializada

A Tartarugas é uma empresa especializa no turismo de aventura, treinamento e esportes radicais. De acordo com o instrutor André Ricardo de Souza, há três grupos especiais que os trabalhos são desenvolvidos: crianças de três a nove anos, terceira idade e deficientes. “Os com alguma deficiência sentem mais a atividade de aventura. Deixam de se preocupar com coisas simples e aproveitam mais”, explica. Conforme Souza, apesar de o grupo da ACIC ser grande, 17 pessoas, o pessoal terminou o percurso no mesmo tempo de um grupo sem deficiências.

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